Era só uma fotografia. Mas se apaixonara mesmo assim. Pela imagem. Pelo conceito imagem, pela imagem conceito. Olhara para os olhos ali retratados e, querendo descobrir tais segredos, pulou no abismo, jogando-se numa estrada sem fim. Numa queda sem fim.
Depois, ainda viu aquela imagem se transformar em música. Era poesia cantada. Deus Meu! Como poderia ser? Ver tal imagem se movimentar por entre as escalas musicais e ainda por estrofes e mais estrofes de uma poesia aplicada. Suas emoções não se dispunham a acreditar no que viam. Quantas emoções. E então a idéia da paixão transformou em amor. Um amor crescente, latente, doente. Ente. Ente. Ente. Ente. Ente.
Era muito bela tal imagem de olhos de abismos. A estrada sem fim era tentadora. Um encanto. E por isso não conseguia sair de seu mundo de emoções vastas. Seu mundo era um furacão. Um turbilhão. Um milhão e meio de sensações imantadas. Um imã de alma. Um cordão umbilical conectando seus sonhos ao fundo mais profundo do tal abismo.
Era amor. Foi amor. É amor.
E a descoberta de tal amor se dava na sensação de que cada encontro era um reencontro. Na sensação de ficar completamente à vontade em pleno vôo sem asas. Em plena queda.
Se havia desconforto? Sim. Um bem de leve. Que se consistia apenas em olhar novamente para a imagem. Não o tempo topo. Algumas vezes. Olhar para os olhos da imagem e questionar-se se tudo poderia ser real. Se a imagem realmente era viva. Se a imagem poderia ser tão leve e tão grande ao mesmo tempo. E era.
Tudo era grande diante de suas retinas. Até mesmo suas pupilas se dilataram diante de tanta grandeza. E devido às proporções, o leve desconforto violentou-lhe os olhos e alojou-se na alma, causando então, imensa dor.
Resolvera partir. Rasgou a imagem em milhares de pedaços bem minúsculos. Mas guardou todos eles numa caixinha delicada. E gastando a ultima gota do ar rosa que envolvia seu mundo, seus pulmões ja asmaticos de tão sem fôlego, encheu o peito de coragem e gritou a única certeza que tinha: Eu te amo, meu amor!