2/26/2008

Em defesa da arte


Enquanto eu passava pela porta, ainda com a cara sonolenta e com aquele mau-humor matinal, ele lia meus pensamentos: “Você deve escrever bem, tem cara de quem tem blog, gosta de poesia. Deve ler bastante”, disse ele ao invés do tradicional “Bom dia”. Fiquei assustada, mas pensei que poderiam ter sido meus óculos vermelhos, sempre achei que eles dizem muito sobre mim.
Depois foi aquela aula. Tudo que eu queria ouvir. O suficiente para me fazer esquecer o mau - humor. “Isso que vocês fazem não é arte. Não cheira como arte. É formula, é matemática. Esse texto é matemática, vocês compreendem isso? Início-meio-fim. Níveis de leitura. São cinco. Mas vocês não farão essas leituras. Apenas quatro seria o suficiente. Isso não é poesia. Não, não é arte. É o pão que vocês comem. É família. É meu filho de 18 anos”.

Tudo foi bem verdade, bem duro de ouvir. Mas aquele entusiasmo... Meu Deus, aquele entusiasmo! Para mim ele era sim um artista. Um artista que talvez não tenha descoberto a arte que faz. Talvez não. Talvez ele estivesse se fazendo de durão. É, ele tem essa cara.

Esse texto é pra você, entusiasmado artista.

Com ele (o texto) quero dizer que é arte sim o que fazemos. Assim como curar, contar, pintar, tocar... É arte porque na aridez da ausência artística encontramos alguma força pra seguir. E porque não paixão? É arte porque há paixão. É arte porque transforma.
Penso que no pouco não há espaço, mas no muito que fazemos, na crítica que motiva, no sujeito separado por vírgula, naquele “visinho” com S, na frase mal feita, no texto imperfeito, há sempre espaço pra transformação. E se há transformação, há arte.

Se houver entusiasmo igual ao seu, é arte.

Pode ser que você não concorde ou pode até ser que goste desse texto sem muita coerência. Mas o que é a coerência senão significado? E esse significado não está na gestalt, na associação de idéias. Artista meu, o significado está em tudo que vemos ou deixamos de ver. O verdadeiro significado está nas coisas que sentimos.

E existe arte mais completa do que sentir?

Só mais uma coisa: meus óculos dizem tanto assim sobre mim?

,Um abraço entre virgulas,
Mim

2/02/2008

Dora Menina, o Amor e a mochila


Ao longe já se ia Dora Menina.
Na longa estrada-horizonte
lentamente seguia
Dora, o Amor e a mochila

No peito, Dora Menina
carregava um nó.
No ombro, a mochila
presa com uma alça só.

Dora Menina, será que não vê?
És tão cega assim?
Não percebe que o Amor
não está mais afim?

Afim de quê? - Dora Menina questiona.

Ora, ora, Dora. Ora bolas!
O Amor não mais se emociona!
Não se incomoda
com sua cara de chorona.

E vê se dessa vez não cochila!
Tire do ombro essa mochila,
esse peso que não compensa.
Dora, menina
vê se pensa!

Mas esse Amor é um bobo - retruca Dora, irritada.
Fica se achando o tal.
Dizendo ser amor, amoreco, amorzinho...
Até parece que não é mau.

O pensamento se cala por um instante...

Mas logo volta a pensar.

Dora, Dora, Dora...
o amor não demora.
E se demora, fica.
Me diz, Dora,
e se o Amor partir?

Se partir, Dora, não volta.
Porque amor quebrado
é prejuízo.

Dora, Dora, Dora...
Mais uma vez,
o amor não demora.

Dora!
Dora!
Doooooooooooooora!

Na estrada-horizonte já se ia
Dora Menina
sozinha.

Os pássaros cantavam tristemente:
"Que Amor é esse que pesa tanto assim?
Será Amor de Dora Menina
que não gosta mais de mim?"