Fome
"Saudade é um pouco como fome"-
já constatou a poeta.
Estou com os dois.
Pensando bem, até que poderia ser mais fácil. Mas quer saber? Se ela não tivesse se reinventado tantas vezes, talvez não teria se encontrado assim, tão dona de seus sonhos. Encheu o peito de coragem. Ou a mente? Encheu a consciência de coragem... Sim, a consciência. Ela jamais havia parado de pensar. Mas seu coração, por ele, já tinha parado de bater. Enfim, encheu a consciência de coragem e se reergueu sabe-se lá de quantos absais. Escreveu sua história. Reescreveu sua história. Reinventou-se. Celebrou a sua natureza de mulher, seu instinto de mãe( se é que isso é mesmo instintivo). Ela sabia das coisas e tinha- sempre teve- certeza do seu melhor. E mesmo quando erguia a cabeça, era no silêncio que falava. Com os olhos, quase sempre. No silêncio ela era palavra escrita. Na ausência, era palavra ainda por escrever. E contava histórias maravilhosas com seu olhar de mistério. Tinha a energia de uma Phoenix -tão feminina por natureza- , mas gostava mesmo de se comparar com os cavalos marinhos, sempre mansos de espírito, elegantes, verticais. Sempre verticais. Não importando a profundeza em que se encontram. Ah quantos absais... Aliás, os cavalos marinhos serão sempre uma boa metáfora para ela, que eu não sei se sabe nadar. Mas que não precisou virar cinza para ressurgir. Encheu o peito de coragem. Botou o coração para bater mais forte e falou com seu olhar que pensa: “não há nada que uma mulher não possa superar”. Depois disso, apaixonou-se por ela mesma. Foi o primeiro cavalo marinho com asas que já vi. |