9/30/2010

Desatenta


O mundo vem à mim, algumas vezes, de maneira muito confusa.
Um turbilhão de informação me chega aos olhos e, por eles não passam.
É como se eu enxergasse a paisagem, mas não a visse.
Meu mundo é um sentir sem arrepios. Uma música que, muitas vezes, toca em silêncio.
É um livro que eu leio e não entendo e, então, leio novamente.
Olho para a esquerda. Para a direita. E o que eu vejo são muitas dúvidas e uma única certeza: todas elas permanecerão sem resposta.
Minha sensibilidade é outra.
Não compreendo os números, mas leio os olhares.
Falo pouco, mas quando falo é de verdade.
Sei sorrir com os olhos – olhos estes de abismos e de promessas.
Choro bem quietinha, prestando atenção nos pensamentos .
Minha sensibilidade é  outra.
Não presto muito atenção nas coisas. Eu gosto é de sentir.
Meu maior desafio é arrepiar de emoção. Sem chorar.
E depois do arrepio, aí sim vem a lágrima.
O mundo vem à mim, algumas vezes, de maneira muito confusa.

Minha sorte é não prestar atenção nessas coisas e prosseguir.
Prosseguir sempre questionando. E esquecendo das respostas.

Quem sabe assim, chegarei em algum lugar.

Foto: Pipa Cavalcanti

9/28/2010

Cinza


Olhei pra frente e o que eu vi foi a chuva que chovia teimosamente. Sem parar.
Não tinha você. Não tinha eu. Em meu horizonte tudo era cinza de um tempo chuvoso.
E a chuva caia... caia fria. Enquanto eu ia... ia... Fria.
O meu coração de granizo se derrete ao luzir do primeiro raio de sol. E não demora muito.
Mas, enquanto chover e o céu –e tudo- estiver cinza assim, decidi que vou olhar pra trás.
Só enquanto a chuva estiver caindo... indo... E eu indo... indo. Rindo.
Depois, o sol vem. Meu coração derrete.
A chuva evapora. Quente.
Meu coração bate. Arde. Quente.
No meu horizonte cinza de um dia chuvoso vejo duas certezas: a do luzir de um raio de sol e de novas tempestades.
No meu horizonte não tem você. Não tem eu. Só um cinza profundo, de uma chuva que teima em chover pela metade.

Foto: Pipa Cavalcanti

9/22/2010

Diálogo sobre uma tão sublime beleza


“O que dizer à bela dama se sua beleza é tão intensa que até um girassol despetalado não retém outra coisa no olhar?” – perguntou o rapaz.
- Não diga nada. Absolutamente nada -  respondeu o Girassol- Quando a beleza se faz sublime, olhe para ela bem quietinho. Aprecie os detalhes e  guarde-os no silêncio.

Tudo que é belo merece respeito.

Foto: Pipa Cavalcanti



9/12/2010

Sobre gripe e promessas

Quando eu fico gripada eu fico doente de verdade. Isso é, não há outra doença que me derrube tanto como uma gripe de mão cheia.

A gripe me faz pensar na vida. Entre um espirro e outro (e o corpo todo contorcido de dor) penso em meus (maus) hábitos: “Ah se eu comesse mais verduras e legumes” , “A partir de amanhã vou tomar vitaminas”, “Eu sei. Preciso parar com essa mania de lavar o cabelo à noite”...

Minha gripe é quase um réveillon- faço resoluções que não irei cumprir nem a metade. E tais promessas se repetem a cada novo vírus gripado que se instala em meu corpo.
Mas quem é que não está sujeito à gripes e promessas não cumpridas?

Na foto, tirada hoje mesmo, eu, de-saco-cheio dessa gripe. Tomando uma sopinha sem graça na tentativa de suar a febre.

Foto: Pipa Cavalcanti